quinta-feira, 28 de abril de 2016

O ACHADO PRECIOSO

Na velha Índia dos sonhos do passado,
De mistério e crendice,
Um peregrino, triste e desolado,
Vinha de longe como quem sentisse
O horror do seu pecado,
Perseguindo-o com o fogo dos remorsos...
 

Vinha de muito longe, e árduas distâncias
Percorrera, de joelhos,
Para banhar-se nas ‘divinas’ águas
Do Ganges – o ideal rio sagrado –
Mas, com a carne em chaga e olhos vermelhos,
- Resultado de mil e um esforços
Para encontrar a paz do coração –
Ele notou que fora tudo em vão;
Pois a angústia das ânsias
E o delírio das mágoas,
Na sua vida de desesperado,
Nada, nada mudara,
Porque, quando no Ganges mergulhou,
A tradição falhara:
E mais triste, e mais velho, e mais cansado,
Ao seu destino incerto regressou...
 

Mas, ao chegar ao vilarejo e a casa
Em que vivia, pobre e solitário,
Com o pensamento em brasa,
Deparou-se com o velho missionário
Que, com simplicidade e inspiração,
Lhe falou do Calvário,
Da mensagem evangélica da cruz,
Da fé que transfigura o coração,
Da água viva da fonte da verdade,
Da ternura, do bem, da caridade;
Falou-lhe de Jesus.
 

E o pobre, até então insatisfeito,
Sentindo a luz da fé raiar-lhe n’alma
E a ventura da paz cantar no peito,
Descobriu, afinal,
Que a glória e o amor de Deus estão tão perto
De cada coração de moço ou monge,
Que os vive loucamente a procurar
Por ínvios mares, por caminho incerto,
No formalismo da religião,
Ou nos sistemas de filosofias,
Por julgá-los, talvez, tão alto e longe,
Que nem pensa em si mesmo os encontrar,
Pulsando nas tristezas e alegrias
Ou nas ânsias do próprio coração...
Por isso, abrindo os lábios num sorriso,
Confessa o peregrino:
- “É isso que eu buscava, sem saber,
Na crendice da humana tradição;
Cristo é nosso destino,
É nossa luz, é nosso paraíso,
Pois quando o coração
Pode sentir e ver
A glória excelsa do supremo Ser,
Na vida nova e mística do crente,
Deus se revela, clara e santamente,
No milagre da sua redenção.”
 

Tu, que buscas em dogmas e ritos
E, tão longe de ti, o dom supremo
Que garante a ventura e a perfeição,
Aprende esta lição,
Tão cheia de preceitos infinitos:
Deus está em ti mesmo, em ti existe
A celeste virtude
Que te oferta a alegria na hora triste;
Nos momentos de dores, a saúde;
E, em tudo o mais, na transfiguração
Da velhice que cansa,
A juventude eterna da esperança
E o sempre novo bem da salvação!

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Autor: MÁRIO BARRETO FRANÇA

REFERÊNCIA:

REACHERS, Sammis. Antologia de Poesia Missionária – Volume 2. [s.n]. Versão gratuita em PDF, [2013].

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