domingo, 24 de abril de 2016

"TEM DÓ, PAPAI DO CÉU!...

Aos pioneiros de Missões Estrangeiras, e à menina Creusa, Filha do casal Lígia e Waldomiro Mota, missionários na Bolívia.

Santa Cruz de La Sierra. O dia declinara, 
Ornamentando o céu de uma beleza rara, 
Pondo nos corações cansados de sofrer 
Uma gota de luz e um pouco de prazer, 
Pois no suave dulçor da tarde que morria 
A bondade de Deus em promessas sorria... 

Quando a noite desceu sobre a cidade o manto 
De treva, uma notícia andou de canto a canto: 
- “Vai haver pregação das doutrinas de Cristo, 
Na pequenina igreja evangélica!...” 
– Nisto, Um ébrio inveterado, erguendo-se do chão, Falou: 
- ‘Vou acabar com essa reunião!...’ 

E seguiu, cambaleando, em direção ao templo... 

Na casa de oração, porém, um belo exemplo 
De fé, a fulgurar nas asas da inocência, 
Iria arrebatar a pequena assistência, 
Que via em gesto audaz de crença e confiança 
A manifestação de Deus numa criança... 
É que a menina Creusa - a filha do pastor – 
Pedindo ao seu papai uma Bíblia e um Cantor, 
Pôs-se logo a cantar, numa voz que seduz, 
Um hino que exaltava o poder de Jesus: 

“No hay peligro, 
No hay peligro, 
Pra quien tiene fé 
Em mi Jesus!” 

Nesse instante assomou à porta o celerado; 
E, em gesto ameaçador, ficou ali, parado, 
À espera do momento em que iniciaria
A cobarde agressão... 

                                 Mas a doce harmonia 
Dessa voz infantil foi aos poucos quebrando 
O pétreo coração daquele homem nefando 
Que tirou seu chapéu, tornou-se reverente, 
Seu semblante mudou, sorriu humildemente, 
Sentindo dentro d’alma o conforto divino 
Que lhe vinha do céu no cântico dum hino... 

Quando Creusa parou de cantar, disse o velho: 
- “Se cantares de novo, ouvirei o evangelho, 
Deixarei, sem temor, todos os vícios meus 
E virei sempre aqui para adorar a Deus!...”  – 

Animada de amor que se comove e canta 
Dentro do coração, a Creusa se agiganta 
E eleva a sua voz de místicas doçuras 
Aos redoirados céus das divinas alturas, 
Emocionando assim toda a congregação 
Que a acompanha depois nessa meiga oração: 
- “Papai do céu, concede a este bêbado velho 
Um novo coração para o teu Evangelho! 
Tem piedade, Senhor, desse infeliz incréu 
E de su’alma atroz, tem dó, Papai do céu!” – 

E um vislumbre de fé, e um roseiral de prece 
Em cada olhar fulgura e em cada peito cresce, 
Na congratulação dos pregoeiros da cruz 
Por mais um pecador que se entrega a Jesus. 
                              *
Creusa! Tua missão é a missão dos pequenos, 

Dos que vivem com Deus, dos que lutam serenos 
No bendito mister de fazer caridade, 
Pregando a Paz, o Amor, o Perdão e a Humildade; 
Por que não fazem mal e não sabem mentir, 
Pois vivem, na verdade, a cantar e a sorrir!...

Creusa! Tua missão é a missão dos remidos, 
Consolando o que sofre ao peso de um labéu... 
Vive, pois, a implorar por todos os perdidos: 
- “Tem dó, Papai do céu! Tem dó, Papai do céu!...”
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Autor: MÁRIO BARRETO FRANÇA

REFERÊNCIA:

REACHERS, Sammis. Antologia de POesia Missionária 2. [s.n]. Versão gratuita em PDF, 2013. 



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