segunda-feira, 30 de maio de 2016

TERAPIA DA REFLEXÃO

Autor: Thiago Dantas  
Primeira Igreja Batista de São João de Meriti/RJ Da Revista do Promotor da Campanha de Missões Mundiais de 2009 da JMM

Introdução: A peça tem uma proposta bem simples, porém, há toda liberdade para abusar da criatividade nos elementos cênicos.
 
Objetos cênicos: um pedestal com microfone e cinco cadeiras.
Perfis:

Coordenador – Agradável e sereno, não tem um comportamento de apresentador artificial. Deve ser alguém comum, próximo do público.
Mulher 1 – Visivelmente atormentada, porém, seu figurino é super bem arrumado, seus cabelos bem penteados. Olha para os lados várias vezes com desconfiança, sorri em momentos inoportunos, por vezes acelera sua fala.
Mulher 2 – Alegre, mas sofrida. Seu figurino pode ser composto por uma bata indiana, de preferência.
Menino – Jeito e figurino simples. Descalço, tímido, porém simpático.
Homem 1 – Figurino social - sem paletó mas com gravata. Pode ter fala e trejeitos persuasivos e expansivos.
Homem 2 – Na primeira parte artificialmente, como um apresentador sensacionalista, fala bem devagar cada detalhe. Figurino neutro – roupas cinzas ou claras. Num outro momento fica irritado e inquieto, fala gírias, faz gestos expansivos.
 
Roteiro
Entram todos. Os atores trazem suas cadeiras e as ajeitam num semicírculo aberto, de frente ao público. Por último, e logo atrás, entra o coordenador, sem cadeira, e se dirige ao microfone. Todos, com exceção de quem estiver falando, ficam sentados, ouvindo o depoimento da vez, inclusive o coordenador toma o lugar de quem se levantar.

Coordenador: Olá. Boa noite a todos. Estamos aqui para mais uma terapia de grupo. Todos temos problemas e estamos aqui para nos ajudar.
Para isso, eu não vou me estender, nem quero mostrar mais uma peça impactante, que talvez faça chorar e que é jogada no lixo da mente amanhã. Se nós esquecemos até da mensagem bela que tocou nossos corações domingo passado, ainda mais, façamos aquilo que é coisa básica – amar ao próximo como a nós mesmos. Eu disse “façamos”, porque é diferente o falar do agir.
Digo agir como ato consequente de uma reflexão. É isso que faremos aqui hoje, refletiremos juntos. Algumas pessoas foram convidadas para apresentarem suas experiências com a prática cristã. Elas abrirão suas vidas. Escutem. Se vejam nelas. Mas, diferentemente de outras terapias, tudo o que for falado aqui é para ser dito depois. Por favor, sejam educados, cumprimentem cada um quando se apresentarem. Vamos ouvir a primeira pessoa.
 
Vem ao microfone a Mulher 1, enquanto o Coordenador toma seu lugar.
 
Mulher 1: Meu nome é Elizete.
 
Todos: Olá Elizete (isso se repetirá com cada ator. Todos os atores ouvintes responderão, assim como a congregação. O público pode ser lembrado pelo Coordenador, através de algum gesto, a responder)!
 
Mulher 1: Dentro de mim existe uma chama que arde cada vez que eu fico parada. Cada vez que ignoro Jesus Cristo com o meu modo de agir e viver no mundo, me sinto longe dEle. Aí preciso louvar, louvar e louvar como uma alienada para me fazer esquecer aquilo que dói. E toda vez que ouço o que um semelhante a mim sofre em certos países por simplesmente tocar no nome do Messias, choro. E choro muito para tentar mostrar alguma coisa a alguém, já que nem olho nos olhos do menino que pede dinheiro ali no sinal, explorado por alguém que pode até chamar de mãe. Eu sou uma crente fervorosa, como podem ver. Não posso deixar faltar “aleluias”, senão o silêncio se faz presente e eu vou precisar pensar: Não posso parar, não posso parar...
 
Ela começa a correr descontroladamente, como numa esteira ergométrica, parada no mesmo lugar.
O coordenador se aproxima dela, dá um abraço e a ajuda a se sentar.
Logo depois, com uma indicação do coordenador, o menino se levanta e vem ao microfone.
 
Menino: Eu me chamo Kabir (respondem).
Tenho 12 anos e vou me batizar hoje. Até esse ano nunca tinha ouvido falar de Jesus, do Seu amor e de tudo que Ele dá... De graça! Nunca pensei que se preocupassem tanto comigo. Meu pai nunca teve muito tempo pra mim, mas quando ele soube que eu queria me batizar... Aqui na nossa tribo, isso é uma ofensa, mas é que eles não conhecem esse amor, ainda. O pastor Sebastião, com muita bondade, me falou sobre a história de Cristo; me interessei e nunca mais faltei a uma reunião. Aí aceitei a Jesus. Meu sonho era me batizar, mas meu pai me proibiu. O pastor falou que mesmo meu pai, não conhecendo, ainda, sobre Nosso Senhor, ele é meu pai. Teríamos que esperar, orando e sofrendo diariamente até meu pai permitir. Ontem ele olhou pra mim e de repente disse: “Se for o que você quer, entre pra aquela religião”. Ele não sabe como me fez feliz!
 
Senta. Vem o Homem 1.
 
Homem 1: Meu nome é João Carlos (respondem). Eu fiz a minha boa ação de hoje. Um homem estava no meu caminho para ir à igreja. Ele me pediu dinheiro. Eu tinha certeza que era para beber. Não dei. Ele disse que não tinha emprego, não havia completado os estudos e que sua família era do interior do Nordeste. Falei que ia orar por ele, que colocaria até seu nome no livro de oração. Ele se ajoelhou e pediu um pão. Lembrei que lá em casa tinha pão e que na Bíblia tinha algum versículo que dizia
para não negar o pão. O que eu fiz? Levei-o até minha casa, deixei-o entrar e sentar na minha mesa! Comeu como um porco. Eu percebi que eu estava precisando disso: fazer o bem. Fiquei muito feliz.
 
Senta. Vem o Homem 2.
 
Homem 2: Sou Isaías (respondem). Eu nasci num lugar diferente. Pessoas estão longe de serem pessoas. Elas trabalham como máquinas. Alimentam-se, beijam-se, fazem sexo, matam como máquinas. Elas se vendem e se compram como máquinas. Falam, cantam, ouvem e nem se olham, como as máquinas fazem. As máquinas só pensam em si. Ou melhor, não pensam, não pensam, não pensam, não pensam...
Repete como um disco arranhado e para abruptamente. Suspira, afrouxa a gola e pergunta:
 
Homem 2: Acabou? Posso ir? Que texto maluco! Ainda bem que não sou crente que nem vocês, se prendendo a essa ladainha. Eu sou uma pessoa livre. Pra vocês verem, ontem, por exemplo, comprei uma roupa maneiríssima e caríssima; dei o calote no meu pai, peguei escondido o carro e peguei todas na Festa do Bacanão. Meu estoque de camisinha foi pro espaço. Sou livre ou não sou?
 
Sai de cena afrontando os atores da peça e o público. Os atores olham para o coordenador como se não soubessem o que fazer. Ele faz gesto tranquilo para que continuem.
 
Vem a Mulher 2.
 
Mulher 2: Sou Guilhermina (respondem). Aqui, onde estou, não está nada fácil. Desde que chegamos, impediram a entrada na alfândega das Bíblias que trouxemos. As autoridades ficaram horas perguntando quem éramos, de onde vínhamos... Com um sotaque bem difícil. Graças a Deus, ao chegar um superior e saber que éramos médicos brasileiros, nos liberaram. Fazemos as reuniões com a ajuda da comunidade local às escondidas. Se souberem que você é cristão, te discriminam. É difícil até comprar nos mercados perto de onde estamos, pois nos enxotam como cães. Se descobrirem que você está anunciando o Evangelho, ameaçam de morte. E é o que estamos vivendo. Dizem que vão queimar nossa casa se continuarmos falando de Jesus aos nossos pacientes. Mas os avanços têm sido grandes; nesses dias, três pessoas de uma mesma família se converteram, e todos estão tão entusiasmados...
Por favor, pelo amor de Deus, orem por nós.
 
Senta. Vem o Coordenador.
 
Coordenador: E se faltasse o pastor Sebastião mostrando a bondade e o amor de Cristo na prática? E se todos forem crentes fervorosos, mas ficarem sentados num banco de uma igreja? E se não tivesse quem orasse pelos missionários? E se não tivesse gente que amasse as pessoas, os povos e as nações como Jesus amava? E se num pretexto de boa ação ao outro, só quiséssemos nos sentir bem, egoisticamente? Mantendo o pobre como pobre, o oprimido como oprimido... Todos somos máquinas? Livres? Humanos? Alguém aqui se habilita a se ocupar com o outro? O outro que vive com culpa, triste, distante da graça de Deus. Aquele que pode estar do outro lado do mundo, mas que também é um próximo. Alguém se habilita a amar essa gente? E amar aqueles que fazem lá longe o que não podemos fazer? Alguém se habilita a ter a missão de libertar as nações no nome de Jesus? Você pode levar as ferramentas que tem: o preparo no futebol, o estudo em pedagogia, ou em qualquer profissão da saúde, medicina, odontologia, a experiência com teatro, os anos de estudo no seminário... Use a criatividade. Alguém se habilita a ter a missão de sustentar, de orar, de doar um pouco do que ganha, de chorar com essa gente? Alguém, alô?
 
Cada ator que estava sentado começa a se levantar, enquanto o Coordenador continua olhando o público insistentemente, sem nada dizer.
 
A ordem para se levantarem é: Menino, Homem 1, Mulher 1, Mulher 2. Eles também fitam o público por alguns poucos segundos.
 
Todos saem de cabeças baixas em fila – o Coordenador por último.
 
DEPOIS DA APRESENTAÇÃO 
O pastor convida a igreja para um período de oração silenciosa; brandamente, leva a igreja a refletir sobre o que foi apresentado. Ele deve destacar os desafios da evangelização mundial: a idolatria na Índia, o secularismo na Europa, o materialismo na China, a feitiçaria na África... Ele deve desafiar a igreja para um momento de decisão e participação, de modo que cada um possa dizer: “Usa-me, Senhor”.
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REFERÊNCIA:

REACHERS, Sammins; PIRES, Vilma Aparecida de Oliveira. Teatro Missionário: Peças teatrais e jograis sobre Missões e Evangelização para Igrejas evangélicas. Versão Gratuita em PDF, 2013.
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