terça-feira, 12 de abril de 2016

A LÍNGUA



Peça cômica sobre a fofoca.

Duas mulheres, membros de uma igreja evangélica, travam um diálogo para lá de maledicente, contaminando outros membros com suas línguas afiadas para o mal.



Envolvidas com as fofocas deixam de prestar atenção ao culto que teve como tema da mensagem justamente o problema que as acometia: “aquilo que contamina o homem é o que sai da boca, e não o que entra por ela”

.

Personagens:

Lúcia – Carmem – Irmã Laura – Irmão Salomão – Menina

.

Cenário:

*Duas cadeiras de igreja,

*Uma porta de banheiro, que pode ser feita de TNT, escrito “BANHEIRO” em cima.

.

Efeitos sonoros:

*Gravação de levitas testando os microfones (início);

*E outra gravação dando a benção apostólica (final); e

*gravação da vinheta “Hebert Richard”

.

ABERTURA:

(A CIA DE TEATRO ABNER, INFORMA):

Esse texto é totalmente fictício, e não quer retratar a realidade de nenhuma igreja. (“VERSÃO BRASILEIRA HEBERT RICHARD”)

.

(Entram conversando: “Cacos”, quando sentarem, começam o texto)

.

Carmem – Por que você não veio pra escola dominical hoje, hein?

Lúcia – Irmã, eu tava tão cansada, mas tão cansada, que acabei perdendo a hora.

Carmem – Já achou?

Lúcia – O quê?

Carmem – A hora mulher! Tu é muito lenta visse?!

Lúcia – Veio muita gente?

Carmem – É! Veio! Eu e mais quatro irmãos.

Lúcia – Mas irmã Carmem, meu filho tá me dando tanto trabalho.

Carmem – É? Por quê?

Lúcia – Ele tá de chamego com uma menina que não é pra ele, ela não é crente e fica levando ele pra sair, pra balada como eles dizem.

Carmem – Mas ele estava tão bem na igreja, fazendo amizade com todo mundo.

Lúcia – Pois é, mas depois que conheceu essa mulher na faculdade, esfriou. E o pior: é mais velha que ele 20 anos.

Carmem – Misericórdia! Ela vai criá-lo, é?

Lúcia – Não é hora de brincadeiras! Preciso que ore por ele.

Carmem – Claro! Desculpe, saiu sem querer. Vou orar sim. Mas se a igreja ficar sabendo, já viu. Tem tanta gente que gosta de uma fofoca...

Lúcia – Mas você não vai contar a ninguém, vai?

Carmem - Eu? Claro que não! Minha boca é um túmulo! Não sou de fofocas.

Carmem – Eu vou orar por ele. Mas Lúcia, mudando de assunto, você já tá sabendo da novidade?

Lúcia – Não! Me diz logo, antes de começar o culto.

.

(GRAVAÇÃO I )

.

Carmem – Minha filha vai casar!

Lúcia - Mas já! Tão depressa! Só está namorando há 5 anos e é noiva há 1! É muito pouco tempo, você não acha?

Carmem – Não! Está na hora certa.

Lúcia – Quando vê esses casamentos às pressas, pode ter certeza. É buxo! (fala pro lado em tom de pensamento, enquanto Carmem olha pro lado)

Carmem – Hã! O que disse? Não ouvi!

Lúcia – Não, nada! Estava pensando alto. Que Deus abençoe os dois, né?

Carmem – Amém! Estou tão ansiosa pra ser avó!

Lúcia – Não disse?! Tinha certeza. Está se casando grávida.(fala olhando pro lado novamente). Irmã, vem cá! Ela vai se casar de branco?

Carmem – Claro! Minha filha é vigem, Lúcia! Ponho minha mão no fogo por ela! Ai!

Lúcia – Que foi? Se queimou? (com ar irônico)

Carmem – Não! Deu cãibra na minha perna!

Lúcia – Há bom! Menos mau.

Carmem – O louvor já vai começar. Vou ao banheiro, já volto. Guarde meu lugar!

Lúcia – Está bem vá, mas volte logo. Se não vão dizer que você esta passeando pela igreja antes do culto.

Carmem – Está bem! (Nessa hora, a cena se divide em dois pontos: um com Carmem e outra pessoa que ela encontrou quando foi ao banheiro; outro com Lúcia e irmã Laura.)

Lúcia – Oi minha querida, a paz! Senta aqui quero te contar uma coisa.

Irmã Laura – Mas esse não é o lugar da irmã Carmem?

Lúcia – É! Mas sabe como é, né?! Ela fica passeando o tempo todo! Ela disse que já, já, ela volta.

Irmã Laura – Mas me diga. O que você queria me contar?

Lúcia – Não diga a ninguém que lhe contei, mas a filha da irmã Carmem, sabe?

Irmã Laura – Sei, o que que tem?

Lúcia – Está grávida! E vai se casar às pressas. Foi a própria mãe quem me contou.

Irmã Laura – Irmã! Que escândalo! Ela me parecia ser uma moça tão direita.

Lúcia - Pois é. Ficou esquerda. Colocou a carroça na frente dos bois.

Irmã Laura – Estou passada! Imagine quando toda igreja ficar sabendo?!

Lúcia – Não! Ninguém vai saber! Você não vai contar, vai? E minha boca é um túmulo! Não gosto de fofocas. Misericórdia!

Irmã Laura – Eu vou pro meu lugar que vai começar o culto. E a irmã Carmem tá voltando.

Lúcia – Até mais! A paz! (escurece o lado de Lúcia e Irmã Laura e acende a luz para o lado de Carmem e outra pessoa na porta do banheiro)

Irmão Salomão – Oi, irmã Carmem! A paz do Senhor! Vai ao banheiro?

Carmem – A paz! Vou sim, mas irmão já soube da nova?

Irmão Salomão – Não me diga, irmã. O que foi?

Carmem – Eu soube que o filho da irmã Lúcia está se envolvendo com uma mulher mais velha do que ele.

Irmão Salomão – Sim! E o que é que tem?

Carmem – Como “o que é que tem”? Ela é casada e tem três filhos.

Irmão Salomão – Misericórdia! Foi isso que lhe disseram?

Carmem – Bem, me disseram que era mais velha, mas o resto é fácil de deduzir, né?!

Irmão Salomão – Mas irmã, que escândalo!

Carmem – Pois é. Mas deixa eu ir, que senão vão falar que estou de fofoca com o senhor, e o senhor sabe que não gosto de fofocas, longe de mim falar dos outros. A paz! Até mais! (Volta pra cadeira, se senta e pergunta:)

Carmem – O que estava conversando com irmã Laura?

Lúcia – Mulher, deixa esse costume de querer saber da vida do povo! Que coisa feia! Ela só tava me contando que a filha de uma amiga dela casou grávida, imagine você?!

Carmem – Ainda bem que minha filha tem juízo e não me decepcionou nesse ponto!

Lúcia – (à parte) Coitada ainda nem sabe!

Carmem – O que você disse?

Lúcia – Disse que o louvor vai tocar agora. Tu ta ficando môca, visse! Deve ser a idade!

Carmem – Misericórdia! Lúcia, olha a irmã. Veio quase pelada! Isso é tamanho de saia?!

Lúcia – E o pastor num diz nada. É uma pouca vergonha!

Carmem – Já, já, as irmãs vão estar vindo só de biquíni pra igreja

Lúcia – Eu num duvido nada... Esses jovens não têm respeito por nada mesmo... (apontando pra frente e usando de fé cênica, veem um casal conversando)

Carmem – Menina, pelo amor de Deus. Aqueles dois não param de conversar um minuto.

Lúcia – E não sei que tanto assunto é esse.

Carmem – Quando termina o culto, você nem imagina o que eles fazem! Ficam no maior agarra-agarra na porta da casa dela. Só faltam derrubar o muro.

Lúcia – Misericórdia! Não me diga isso, a mãe dela me parecia ser uma pessoa tão crente... E permite um despautério desses na porta de casa?

Carmem – Pra você vê! As aparências enganam.

Lúcia – Olha, o grupo de dança vai se apresentar.

Carmem – Espero que dessa vez elas se apresentem com roupas mais descentes, por que da última vez dava pra ver até o calcanhar!

Lúcia – Foi mesmo?! Que pouca vergonha! E pastor num disse nada?

Carmem – Nadinha, minha filha. Nadinha! Bateu palmas e tudo!

Lúcia – Menina, tu assistiu a última peça que o teatro apresentou?

Carmem – Não!

Lúcia – Pois não perdeu nada. Outro despautério! Você nem vai acreditar no que eles fizeram!

Carmem – Me diga logo, pois já estou ficando intoxicada de tanta curiosidade. Não que eu seja curiosa, mas quando o assunto é interessante... Me diz logo, mulher!

Lúcia – Vestiram os meninos de mulher dentro da igreja, com tantas meninas no teatro. Agora me diga pra que? Me diga?

Carmem – É o fim do mundo! Que coisa horrível! E o pastor fez o quê?

Lúcia – Ria, ria e ria, mais que todo mundo.

Carmem – Vou falar com a esposa dele. Ela não deve estar gostando desses despautérios.

.

(GRAVAÇÃO II)

.

Lúcia – Menina, o culto já acabou?

Carmem – Já ! Também, o culto é só louvor. A palavra que é mais importante fica com 20 min.

Lúcia – O pastor pregou sobre o que, hein?

Carmem – Nem sei, visse! Pergunta a essa adolescente aí!

Lúcia – Ei, a palavra foi sobre o quê hoje, minha filha?

Menina – Irmãs, a palavra falou acerca da língua! O que mata não é o que entra pela boca, mas o que sai dela! ( Black-out)

.

FIM Igreja- Betel Brasileiro João Pessoa -PB no bairro da Torre Tferrazf@yahoo.com.br Cia de Teatro ABNER

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário